Você tem coragem de não agradar?

3/1/20234 min read

No livro A Coragem de Não Agradar, os autores Ichiro Kishimi e Fumitake Koga trazem um diálogo entre um Jovem e um Filósofo sobre os princípios da psicologia de Alfred Adler. Segundo a psicologia adleriana não devemos pensar em “causas” do passado, e sim em “metas” do presente. Porque se ficarmos presos às supostas causas, não vamos dar nenhum passo à frente.

É interessante essa forma de enxergar as situações da vida porque parece que nos proporciona um pouco mais de escolha, desde que não fiquemos nos concentrando nos acontecimentos do passado. Adler não acredita em traumas e explica da seguinte forma:

“Nenhuma experiência é, em si, a causa de nosso sucesso ou fracasso. Nós não sofremos do choque de nossas experiências – o chamado trauma –, mas o transformamos em algo que atende aos nossos propósitos. Não somos determinados por nossas experiências, mas o sentido que damos a elas é autodeterminante.”

Ou seja, nós determinamos o que as experiências vão representar para nós, através da forma como reagimos a elas, ou o sentido que damos a experiências do passado. Nós mesmos decidimos como viver nossas vidas. Tudo é uma escolha.

Segundo Adler: “O importante não é aquilo com que nascemos, mas o uso que fazemos desse equipamento.” Adler usa a expressão “estilo de vida” para descrever a personalidade e o temperamento das pessoas, que são nossas tendências de pensamento e ação. Para mudar nosso estilo de vida, ou seja, para mudar como agimos e pensamos, é preciso ter coragem. Por isso o Filósofo diz que psicologia adleriana é uma psicologia da coragem.

Voltando ao passado, ele não é importante, é uma ilusão viver no passado, apenas vivendo aqui e agora podemos agir, e assim determinar nossas vidas. No presente, onde vivemos, não podemos alterar fatos objetivos, mas podemos mudar nossas interpretações subjetivas, ou como encaramos e reagimos aos fatos objetivos.

O texto no livro também fala sobre sentimentos de inferioridade e a nossa necessidade de agradar os outros, ou de receber a aprovação dos outros, porque não sentimos nosso valor e nos sentimos inferiores. A falta de humildade também está ligada a isso porque só quem tem sentimento de inferioridade sente a necessidade de se vangloriar para atestar o próprio valor. Entretanto: “A busca da superioridade é a mentalidade de dar um passo à frente com os próprios pés, e não a mentalidade da competição que requer ser superior às outras pessoas. O valor está em tentar evoluir em relação ao que somos agora.” A competição deve ser consigo mesmo, e não devemos nos comparar com os outros, já que as pessoas têm situações de vida diferentes. Pessoas que vivem para satisfazer os outros e confiam a própria vida aos outros, estão mentindo para si mesmas e além disso estendendo a mentira para todos ao seu redor.

Somos seres sociais, e por isso estamos sujeitos aos relacionamentos interpessoais. Adler chama esses relacionamentos interpessoais de tarefas de vida, porque temos a obrigação de enfrentá-los em sociedade. Segundo a psicologia adleriana, a cooperação dentro da sociedade e a autossuficiência como indivíduo são objetivos fundamentais.

Um fato muito interessante sobre o estilo de vida é que somos nós mesmos que escolhemos nosso estilo de vida. É uma escolha inteiramente individual, por mais que pareça sofrer influência dos outros. Se você acha que as outras pessoas influenciam o modo como você deve viver sua vida, você só está com medo de desagradar e não viver de acordo com expectativas alheias, ou seja, lhe falta coragem. Porém, não há necessidade de ser reconhecido pelos outros. Para mudar não devemos esperar pelos outros ou só aguardar que a situação mude, devemos dar o primeiro passo em direção à mudança, devemos agir.

Se nós temos tarefas de vida, as outras pessoas ao nosso redor também têm, e geralmente os problemas de relacionamento são causados pela nossa intromissão nas tarefas das outras pessoas ou ao contrário, pela intromissão alheia nas nossas tarefas. Só nós podemos mudar a nós mesmos, e tudo que podemos fazer é escolher o caminho que acreditamos ser melhor. A psicologia adleriana fala sobre coragem, e também sobre liberdade. “Exercer a liberdade tem um preço, e o preço da liberdade nos relacionamentos interpessoais é desagradar algumas pessoas. A coragem de ser feliz também inclui a coragem de ser detestado e de agir sem se preocupar em satisfazer as expectativas dos outros. Quando você adquire essa coragem, seus relacionamentos ganham uma nova leveza.” Nós não nascemos com a sensação de pertencimento, precisamos alcançá-la por esforço próprio.

Uma desculpa universal que todos utilizamos alguma vez na vida é dizer que não temos tempo. Mas a verdade é que temos tempo, nos falta organização e priorização. E se são suas tarefas de vida, você deve se preocupar com elas, você deve ter consciência de tudo, de tarefas domésticas à criação dos filhos, das amizades e dos hobbies, e todas as outras tarefas de vida que são suas. Realizando suas tarefas você estará contribuindo como ser social e sentirá que está contribuindo para um bem maior. O Filósofo resume e diz que a felicidade é a sensação de contribuição.

Finalizo com a frase do livro: “A vida é uma série de momentos, e nem o passado nem o futuro existem. A maior de todas as mentiras da vida é não viver o aqui e agora. O que decide tudo não é o ontem nem o amanhã. É o aqui e o agora.”