O que aprendi na competição de crossfit?
11/2/2023
A primeira vez que eu fiz uma aula de crossfit foi em 2015. Eu tinha visto vídeos da modalidade no YouTube e achei muito legal, mas ainda não tinha onde treinar na época. As coisas demoram para chegar na minha cidade. Enfim, foi um relacionamento de idas e vindas até novembro de 2021, quando voltei a praticar e não parei desde então. Desta vez eu convenci meu marido a treinar comigo. Ele já tinha experimentado a modalidade anteriormente, mas por causa de um problema prévio no tornozelo, precisou fazer uma artroscopia e achou que não conseguiria mais correr ou praticar crossfit. Estava muito enganado. Estamos treinando sem interrupções desde o final de 2021, e não pretendemos parar mais.
Em novembro de 2021, quando voltamos, era a época pós-pandemia e nós tínhamos treinado pouco no geral desde 2019. Fazíamos alguns treinos em casa, mas não com a consistência (ou intensidade) adequada. Então, quando retornamos para o crossfit dá para dizer que estávamos flácidos. Nenhum de nós tinha sobrepeso, mas o tônus muscular estava longe do nosso ideal. Como qualquer pessoa que já praticou crossfit sabe, iniciar ou voltar é difícil, porque tudo parece muito. O fôlego para correr é curto, os movimentos são complexos, mesmo utilizando cargas baixas, o que é o correto para iniciantes, a gente acha que não vai conseguir terminar os treinos. Muitas vezes não consegue mesmo, não dá tempo, a força termina e o fôlego já era faz tempo. Mas então, a gente continua indo, aparecendo nos treinos, aceitando que vamos ser ruins em algumas coisas mesmo, mas sempre tentando melhorar. E a melhora começa a acontecer. Começamos a terminar treinos dentro do tempo. Aprendemos movimentos novos. Conseguimos, vagarosamente, progredir algumas cargas. E aí, estamos fisgados, já era. Quando vê, estamos respirando crossfit. Temos treinos favoritos, movimentos que queremos muito aprender, roupas e tênis de treino dominam a nossa lista de presentes em todas as datas.
Então, surge a possibilidade de uma competição. Eu sempre participava de competições de basquete e vôlei na época do colégio e da faculdade, mas nunca tinha ido numa competição de crossfit. Acho que foi um caminho sem volta. Já disse uma vez que crossfit vicia mais que tatuagem. E apesar das competições serem difíceis como aqueles primeiros treinos, elas valem cada segundo e cada centavo. Não moro perto de nenhuma cidade onde as competições acontecem, então envolve um certo investimento financeiro e planejamento logístico. Mas como eu disse, vale a pena. É divertido, é emocionante, é cansativo demais, mas é muito bom. A pessoa que se inscreve na competição não é a mesma que termina a competição. Com certeza, algo muda, algo cresce, algo é aprendido, e saímos melhores do que entramos (com dor muscular, mas isso passa).
Fui numa competição pequena, numa competição média e numa competição grande. A pequena com cinquenta inscritos, a média com trezentos inscritos, e a grande com mais de setecentos inscritos. A energia do crossfit é palpável em todas, o barulho é um pouco maior é claro, quanto mais pessoas, mais plateia, mais barulho. Mas confesso que quando estou lá dentro competindo, não dá para escutar mesmo, sei que estou no meio de um ambiente barulhento, mas não atrapalha, e a concentração (ou o nervosismo, dependendo da pessoa) não deixa a gente perceber muito o sentido da gritaria.
Existem os contras, como tudo na vida. As equipes que organizam esses eventos precisam receber reconhecimento porque não é fácil organizar, receber e lidar com o que parece um bando de malucos que são os praticantes e atletas de crossfit. Também já tive a experiência de ajudar na organização de uma competição interna e não é fácil fazer tudo dar certo. Mas são os próprios atletas que às vezes representam um retrocesso para a modalidade esportiva. Algo simples como uma categorização baseada em habilidades que você tem ou não tem, não parece funcionar nas inscrições. Isso porque as pessoas não são honestas. Ficam num frenesi por subir no pódio e subestimam totalmente as próprias capacidades, de forma que alguém iniciante compete com alguém que claramente é mais experiente (independente de há quanto tempo treina). Todo mundo sabe, todo mundo vê, todo mundo percebe, não tem como esconder. Quem pratica crossfit bate o olho e pensa “aquele ali está numa categoria abaixo do que deveria”. E tudo para quê? Subir num pódio em primeiro ou segundo lugar sabendo que foi uma disputa injusta? Ganhar a qualquer custo?
Então, o que eu queria com esse texto, é um pouco mais de honra da comunidade do crossfit. Isso mesmo, honra. Vou definir aqui para quem não tem esse significado na ponta da língua: “honra é um princípio que leva alguém a ter uma conduta virtuosa, corajosa e que lhe permite gozar de bom conceito junto à sociedade”. Eu aprendi que a competição de crossfit é uma experiência maravilhosa, é uma energia difícil de descrever, mas que alguns competidores ainda têm muito o que aprender, sobre honestidade. Para ficar claro e cristalino, vou colocar em linguagem de crossfiteiro, para quem é da comunidade entender: não seja o RX que baixa de categoria só para “ganhar”.
Eu vou seguir competindo, seguindo meus princípios de honra e honestidade, valorizando o porquê da existência de cada esporte (superar a si mesmo), espero que mais gente faça isso também.